sexta-feira, 4 de setembro de 2009

As manchas solares estão desaparecendo?

Tradução de Are Sunspots Disappearing? por PY3IT André



As manchas solares estão desaparecendo?


Dr. Tony Phillips
james.a.phillips@earthlink.net


3 de Setembro de 2009


O Sol está apresentando o mais profundo mínimo solar em quase um século. Passam-se semanas e as vezes meses, sem aparecer uma única e minúscula mancha solar. A calmaria solar já tem se arrastado por dois anos, o que levou alguns observadores a se perguntarem se as manchas solares não estão desaparecendo para sempre.

"Pessoalmente, eu estou apostando que as manchas solares voltarão", diz o pesquisador Dr. Matt Penn do Observatório Nacional Solar (NSO) que fica em Tucson, Arizona. Porém , o Dr. Penn adverte: "há algumas evidências de que as manchas solares não irão retornar”.

O colega pesquisador do Dr. Penn, Dr. Bill Livingston, também do NOS, verificou as medidas dos campos magnéticos das manchas solares dos últimos 17 anos e ele encontrou uma tendência notável: o magnetismo das manchas solares está enfraquecendo.

Campos magnéticos da manchas solares medidos por Dr. Livingston e Dr. Penn. Medidas realizadas entre 1992 a Fevereiro de 2009 utilizando a técnica de separação de infravermelho Zeeman.




"Os campos magnéticos das manchas solares estão caindo em cerca de 50 gauss por ano", diz Dr. Penn. "Se extrapolarmos essa tendência para o futuro, as manchas solares podem desaparecer completamente por volta do ano 2015”, completa.


Este fenômeno de desaparecimento é possível porque as manchas solares são feitas de magnetismo. O firmamento de uma mancha solar não é matéria, mas sim um forte campo magnético que aparece como uma mancha escura porque bloqueia o fluxo ascendente de calor do interior do Sol. Portanto, se uma mancha solar perde seu magnetismo, ela deixa de existir.

"Segundo as nossas medições, as manchas solares parecem se formar apenas se o campo magnético é mais forte que cerca de 1500 gauss", diz o Dr. Livingston. "Se a tendência atual continuar, teremos atingido esse limite, num futuro próximo, e o campo magnético do Sol se tornaria demasiado fraco para formar manchas solares."

"Este trabalho tem causado sensação no campo da física solar", comenta o especialista em Física Solar da NASA Dr. David Hathaway que não está diretamente envolvido na pesquisa. "É uma assunto controverso", afirma.

A controvérsia não é sobre os dados. "Nós sabemos que Dr. Livingston e Dr. Penn são excelentes observadores do Sol," diz Hathaway. "A tendência que eles descobriram de desaparecimento de manchas solares parece ser real".

Os outros cientistas que estudam o Sol estão com dificuldade de acreditar na extrapolação dos dados dos cientistas Dr. Penn e Dr. Livingston. O Dr. Hathaway observa que a maioria dos dados coletados pelos cientistas do NOS foram observados depois que o máximo do Ciclo Solar 23 (2000-2002) aconteceu, época que começou o declínio natural de manchas solares. A queda no campo magnético solar pode ser um apecto normal do ciclo solar e não um indício de que as manchas solares estão desaparecendo.

O Dr. Penn se interroga sobre esses pontos: "Nossa técnica é relativamente nova e os dados coletados contemplam apenas 17 anos de observações. Nós poderíamos estar observando uma desaceleração temporária que irá inverter-se."

A técnica que os cientistas do NOS estão utilizando foi criada pelo Dr. Livingston e é aplicada através do telescópio solar McMath-Pierce, que fica na cidade de Tucson. Ele observa uma linha espectral emitida por átomos de ferro na atmosfera do Sol. Os campos magnéticos das manchas solares causam a divisão da linha em duas em um efeito chamado "Separação Zeeman", em homenagem a o físico holandês Pieter Zeeman que descobriu o fenômeno no século 19. O tamanho da divisão revela a intensidade do magnetismo.


Separação Zeeman das linhas espectrais de uma mancha solar fortemente magnetizado



Os astrônomos têm medido os campos magnéticos das manchas solares há quase um século de uma mesma maneira. Contudo, o Dr. Livingston mede de maneira ligeiramente diferente. Enquanto a maioria dos pesquisadores mede a separação das linhas espectrais na parte visível do espectro solar, o Dr. Livingston decidiu medir na região do infra-vermelho. Segundo ele, as linhas de infravermelho são muito mais sensíveis ao efeito Zeeman e dão respostas mais precisas. Além disso, o Dr. Livingston dedicou-se a medição de um grande número de manchas solares, mais de 900 manchas entre os anos de 1998 e 2005.

Se as manchas solares realmente desaparecerem, não seria a primeira vez. No século 17, o Sol mergulhou em um período de 70 anos sem manchas solares conhecido como o Mínimo de Maunder, que ainda confunde os cientistas. A ausência de manchas solares começou em 1645 e durou até 1715. Durante esse tempo, alguns dos melhores astrônomos da história acompanharam o Sol e não conseguiram contar mais de uma dúzia de manchas solares por ano, comparado com os milhares de costume.

"Se a crise atual é um presságio de um longo prazo de declínio das manchas solares, parecida com ao Mínimo Maunder, precisamos de mais observações para podermos afirmamos isso" , afirmam os Dr. Penn e Dr. Livingston em recente publicação científica. "Outras indicações da atividade solar sugerem que as manchas solares deve retornar no início do próximo ano."

Aconteça o que acontecer, o Dr.Hathaway comenta: "O Sol está se comportando de uma maneira interessante e acredito que estamos prestes a aprender algo novo."


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Para saber mais:
Ciclos Solares na Wikipedia: em inglês e em português
Mínimo de Maunder na Wikipedia: em inglês
Página do Observatório Solar Nacional (NSO): em inglês
Biografia do Dr. David Hathaway (NASA): em inglês
Página do Dr. Matthew Penn (NSO): em inglês
Página do Dr. Bill Livingston (NSO): em inglês


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